quinta-feira, 18 de junho de 2009

ARQUIVOS DO FADO - AMÁLIA SECRETA




Chama-se “Amália Secreta” e é o terceiro CD da colecção Arquivos do Fado que, aconselho, é para seguir atentamente. Editado e distribuído pela Farol Musica e fabricado sob licença da Tradisom, apresenta-nos gravações que ocorreram entre 1953 e 1958.
Com uma concepção gráfica fora do comum em álbuns de fado, este conjunto de digipacks são lançamentos perfeitos para figurar na colecção de qualquer apreciador de fado, de fadistas antigos (embora Amália seja sempre recente, vive no imaginário de todos nós e nas recordações de muitos) e de gravações antigas/raridades.
“Amália Secreta”, é constituído por 16 fados, 2 canções espanholas e 2 rancheras. Os discos de 78 rotações encontram aqui uma recuperação excelente e bem seleccionada. As gravações foram feitas no Brasil, em Nova Iorque, em França, o que demonstra de imediato, como artista, a sua projecção para o exterior.
Devido a alguns desentendimentos com a editora Valentim de Carvalho (1958), existiu um disco que não foi editado em Portugal. Agora temos oportunidade de ouvir os maravilhosos fados de Frederico Valério acompanhados por Domingos Camarinha e Santos Moreira. Pela editora francesa Ducretet-Thompson foi editado um disco que inclui as canções espanholas e rancheras, e três cantigas acompanhadas pela orquestra de Fernando Carvalho, que foram editadas no EP “Amália Rodrigues – La Fabulosa”.
Esta exposição que acabei de narrar vem muito bem detalhada no pequeno ensaio da autoria de Ramiro Guiñazú. O resto do livrinho traz os poemas (ainda bem!) com indicações das músicas, letras, editoras, números de catálogo e acompanhantes.
Para finalizar, queria destacar que a voz de Amália, nestas gravações, encontra-se muito virginal, muito clara, pouco moída, o que amplifica a sensação (ainda maior do que é costume) de que a sua voz pode projectar-se infinitamente. Esta foi uma sensação que sempre tive com a voz de Amália, porque ela é das poucas fadistas que não grita. Não precisa. A voz modula-se de forma tão natural à orgânica das canções, flutua com uma elasticidade e alcance que parecem não ter limites. Nestas gravações sentem-se ainda mais essas características e esse talento todo ao rubro, um pouco menos contido, mas tão bonito!

7 comentários:

  1. Querida Amiga.
    Muito obrigado por suas palavras. Percebeu perfeitamente a Amália que eu queria mostrar nessas cantigas esquecidas no tempo...
    Grande abraço.

    Ramiro (Produtor do Disco)

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  2. Caro Ramiro,
    Fico feliz por esta apresentação de "Amália Secreta" ter captado a sua atenção! Amália Rodrigues... toda ela é muito espírito, mas além de se sentir também se aprende. Eu é que agradeço a oportunidade que deu a todos nós de conhecer mais esta Amália e de podermos ouvir gravações que não estariam disponíveis ao apreciador comum.

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  3. Olá,

    Muito interessante este seu artigo sobre o novo volume da série Arquivos do Fado. Os outros dois discos que estão publicados nessa série também são muito bons. Alegro-me de que você goste tanto da Hermínia Silva, que é também uma das minhas cantadeiras favoritas, sobretudo a sua versão da "Casa da Mariquinhas". Há um vídeo no YouTube da Hermínia a cantar esse fado que eu acho muito interessante.

    Muito obrigado pelo link ao meu blog Guitarras de Lisboa; eu venho de acrescentar lá um link ao seu blog. Obrigado também pelo seu amor pelo fado: sempre é bom ver que nascem novos blogs sobre esta música maravilhosa!

    Um abraço dos Estados Unidos,

    Antón García-Fernández.

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  4. Caro Antón, agradeço o seu comentário elogioso! Quanto aos outros dois discos, ando a morrer por tê-los, mas e encontrá-los? Anseio ouvir a voz da Ercília, que só conheço pelo que existe no YouTube.
    A Hermínia a cantar a "Casa da Mariquinhas" é um vistaço, ainda por cima repare que existem dois números, um da Mariquinhas a pesar 100kg e outro 450kg!
    O seu blogue Guitarras de Lisboa é precioso no que respeita a bons artigos sobre fado! Adorei o da Berta Cardoso, que é uma fadista pela qual nutro uma grande curiosidade.
    Muito obrigada Antón, felicidades e saúde!

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  5. Pode encontra-lo no site da Tradisom!

    http://www.tradisom.com/

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  6. É altura de vos dizer que estou muito contente por aquilo que tenho visto escrito neste blog, relativamente à nova série da colecção dos Arquivos do Fado. Como se devem lembrar a primeira série, constituída por seis discos foi feita segundo os critérios do meu amigo Bruce Bastin, possuidor de uma invejável colecção de discos de 78 rpm, agora na posse do Estado Português. Por culpa dele comecei também a fazer a minha colecção e com muita persistência tenho vindo a adquirir, com grande esforço familiar, o que é hoje um razoável conjunto de discos. A ideia de fazer esta nova série resulta do facto de saber que a grande maioria dos verdadeiros apaixonados do fado não ter acesso, nem nunca ter ouvido, muitas das gravações que poderão vir a ser editados. Produzi estes 3 discos com muita paixão e dedicação e tenho que confessar que infelizmente não têm sido objecto da divulgação que mereciam, mas essa parte já não me diz respeito. basta lembrar que o CD Amália Secreta contém 11 faixas nunca editadas em CD, só possível pelo profissionalismo e competência do Ramiro Guinazu, o maior especialista de Amália no Mundo (podem acreditar, não há nada que ele não saiba sobre a carreira discográfica da diva).
    Desculpem todo este arrazoado, mas não ficava
    bem de consciência se não escrevesse estas palavras. Até breve e a próximos volumes...

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  7. Caro José, obrigada pelo seu comentário! É notório o entusiasmo pelo que faz e pelo que investe. Digno de respeito. Acerta "na mouche" ao indicar que os melómanos do fado, hoje em dia, não têm acesso ao material gravado nos 78 rpm. São raros, são caros, já isso diz tudo. Depois, existem pessoas como o José que podem empenhar-se neste género de projectos. A questão é que, em primeiro lugar, pouca gente percebe a real importância desta recuperação para a nossa industria. Parecendo que não, podemos estabelecer uma analogia com a recuperação de um edifício, embora a música, infelizmente, não seja tão concreta. É difícil ultrapassar os estudos de mercado. Como já tinha mencionado no email que lhe enviei, não é necessário ser grande especialista para perceber que Amália Rodrigues ainda é dinheiro em caixa. Então com a saída do CD Amália Hoje, imagine os fãs da pop que vão querer ter um belo digipack a decorar o delírio do momento (se viesse com a Gaivota, então, seria mítico). Infelizmente é assim que temos de pensar. Eu achei quase ultrajante entrar em cada loja, seja ela grande ou pequena, e nem ver um CD da Ercília Costa ou da Maria Alice. Pensando bem, quem as conhece?, para além dos 7 ou 8 que lêem este blogue e mais um universo de puristas que se contam pelos dedos? Na minha opinião há uma coisa que entra muito em conflito com a desejável divulgação e distribuição deste projecto: o gosto actual. E mais não digo.

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