segunda-feira, 12 de setembro de 2011

«A grande Beatriz da Conceição e a extraordinária Berta Cardoso»

Publicado no Jornal Hardmusica
Um disco (formato CD) que vale a pena adquirir para quem tem interesse em conhecer o trabalho da única fadista do grupo que raramente é referenciada em colectâneas do género e que ainda não tem uma compilação editada com os seus fados. Estes discos valem pela possibilidade de ouvir gravações antigas e poder ouvi-las em formato digital. Finalmente vai-se falando de Berta Cardoso, vão-se publicando uns fados aqui e ali, nesta ou naquela compilação. Sente-se a falta de um bocadinho mais no que ao que esta fadista diz respeito.

«Entre as quatro gravações escolhidas de Beatriz da Conceição todas de 1973, está “A menina dos meus olhos” que Mariza retomou no seu último CD, “Fado Tradicional”.
Interpretação única, azougada, de grande valentia a que demonstra Beatriz da Conceição que canta ainda “Eu preciso de te ver”, “Lisboa é testemunha” e “Minha alma de amor sedenta”, este último numa interpretação pungente e de antologia.
Beatriz da Conceição foi distinguida há dois anos com o Prémio Amália Rodrigues Carreira, mas faltou à cerimónia de entrega.
Berta Cardoso é um dos expoentes do fado, e hoje, curiosamente, muito esquecida. Nesse sentido recomendaria a visita ao site da fadista que foi alvo há alguns anos de uma exposição e várias iniciativas (e muito justamente) sobre a sua carreira, no Museu do Fado.
José Manuel Osório não pôde fugir ao emblemático “Cruz da Guerra” que resistiu aos tempos. A data referenciada desta gravação é de 1979 pela Riso e Ritmo.

Da grande Berta Cardoso é escolhido um interessante fado Triplicado, “Noite de S. João”, uma interpretação brilhante do fado Corrido, “Meu amor fugiu do ninho” com uma engenhosa letra de Linhares Barbosa, e um magnífico fado de João Maria Rosendo (letra e música), “Testamento”.
Carlos Zel canta como poucos e num estilo muito seu, o fado dos Sonhos, de Frederico de Brito. Uma brilhante interpretação. Outro é o “Fado d’Outrora”, num ritmo excelente que dá vontade de dizer: “Ah, fadista!”. Ambos os fados são de 1996.

No Fado Vianinha, canta “Nossa Senhora do fado” que há quem aponte como uma dedicatória a Amália Rodrigues de quem o fadista era amigo e admirador, e no Dois Tons, “Mais anos de fado”.
De Carlos Macedo, que foi guitarrista de Maria da Fé e a acompanhou numa memorável digressão ao Brasil, José Manuel Osório escolheu dois temas de 1977, ambos de Vasco de Lima Couto, em que está já lá a nota baladeira do fado de Macedo.

Os dois outros temas são de 1985, um deles assinado por Maria Manuel Cid, “Rouxinol da Caneira”, e “Velho Friagem”, de Raul Ferrão e Fernando Farinha. Uma nota para o acompanhamento nestes dois fados, entre os instrumentistas está Paquito, José Fontes Rocha e Tó Moliças.»