Publicado no Jornal Hardmusica
Um disco (formato CD) que vale a pena adquirir para quem tem interesse em conhecer o trabalho da única fadista do grupo que raramente é referenciada em colectâneas do género e que ainda não tem uma compilação editada com os seus fados. Estes discos valem pela possibilidade de ouvir gravações antigas e poder ouvi-las em formato digital. Finalmente vai-se falando de Berta Cardoso, vão-se publicando uns fados aqui e ali, nesta ou naquela compilação. Sente-se a falta de um bocadinho mais no que ao que esta fadista diz respeito.
Interpretação única, azougada, de grande valentia a que demonstra Beatriz da Conceição que canta ainda “Eu preciso de te ver”, “Lisboa é testemunha” e “Minha alma de amor sedenta”, este último numa interpretação pungente e de antologia.
Beatriz da Conceição foi distinguida há dois anos com o Prémio Amália Rodrigues Carreira, mas faltou à cerimónia de entrega.
Berta Cardoso é um dos expoentes do fado, e hoje, curiosamente, muito esquecida. Nesse sentido recomendaria a visita ao site da fadista que foi alvo há alguns anos de uma exposição e várias iniciativas (e muito justamente) sobre a sua carreira, no Museu do Fado.
José Manuel Osório não pôde fugir ao emblemático “Cruz da Guerra” que resistiu aos tempos. A data referenciada desta gravação é de 1979 pela Riso e Ritmo.
Da grande Berta Cardoso é escolhido um interessante fado Triplicado, “Noite de S. João”, uma interpretação brilhante do fado Corrido, “Meu amor fugiu do ninho” com uma engenhosa letra de Linhares Barbosa, e um magnífico fado de João Maria Rosendo (letra e música), “Testamento”.
Carlos Zel canta como poucos e num estilo muito seu, o fado dos Sonhos, de Frederico de Brito. Uma brilhante interpretação. Outro é o “Fado d’Outrora”, num ritmo excelente que dá vontade de dizer: “Ah, fadista!”. Ambos os fados são de 1996.
No Fado Vianinha, canta “Nossa Senhora do fado” que há quem aponte como uma dedicatória a Amália Rodrigues de quem o fadista era amigo e admirador, e no Dois Tons, “Mais anos de fado”.
De Carlos Macedo, que foi guitarrista de Maria da Fé e a acompanhou numa memorável digressão ao Brasil, José Manuel Osório escolheu dois temas de 1977, ambos de Vasco de Lima Couto, em que está já lá a nota baladeira do fado de Macedo.
Os dois outros temas são de 1985, um deles assinado por Maria Manuel Cid, “Rouxinol da Caneira”, e “Velho Friagem”, de Raul Ferrão e Fernando Farinha. Uma nota para o acompanhamento nestes dois fados, entre os instrumentistas está Paquito, José Fontes Rocha e Tó Moliças.»