domingo, 16 de maio de 2010
Fados à Conversa: Carminho no CCB
Estava eu a "partir naquela estrada" ("private joke", para quem esteve no CCB, a ver e ouvir Carminho) e a pensar o que me esperaria nesta solarenga tarde de Domingo. Estará muita gente?, pensei... Estes eventos dedicados ao fado são um irrecusável chamariz. Assim como Carminho a certa altura frisou, o fado tem um mercado bastante forte. Forte, digo eu, especialmente durante esta fase, que não se sabe muito bem quando começou, nem quando acabará. Carminho teve excelente "timing" ao finalmente editar o seu primeiro álbum, "Fado". Não negarei que não tivesse impacto similar, caso o lançamento ocorresse noutra altura, mas a moda ajuda e a própria quantidade de tempo que a fadista entregou a si própria, até aceitar que seria a altura ideal para gravar, trouxe-a até nós com um estímulo especial de verdade.
Carminho, outrora desconhecida fora da esfera fadista, é agora um potencial fenómeno de massas: portuguesas e à moda antiga (basta ver a faixa etária da assistência e tirar as devidas conclusões). Inegável fenómeno que reúne consenso em todos os meios (até nos meios não fadistas), pela qualidade excepcional da sua voz, entrega e expressividade. Posso dizer que saí da sala Luís de Freitas Branco impressionada e satisfeita. Particularmente, por saber que a rapariga tem aproximadamente a minha idade, é da minha geração, e isso enche-me de orgulho. É que o Fado de todos os tempos, não só deste, tem os bons, os maus e os assim assim.
É bom saber que existem vozes como as de Carminho e de Ricardo Ribeiro, para frisar mais um, que enriquecem esta arte já tão saturada mas que oferece ainda um campo extraordinário para estes filões de luz. Imagino-me a ouvi-los com prazer daqui a 30 anos, assim como ouço com prazer fadistas de há 30 anos atrás, ou mais, muito mais. Não vou ficar petrificada nestes discos que me acompanham todos os dias, nem vou permanecer apenas apreciadora de fadistas mortas ou com mais de 70 anos. É bom saber que há algum espaço nestes ouvidos birrentos (ou exigentes, dependendo da perspectiva) para explorar estas novas vozes, ainda que com conta, peso, medida e alguma desconfiança natural. Ainda não me habituei aos contrabaixos no fado, por exemplo. Desculpem, mas recuso.
Felizmente não foi o caso dos belíssimos músicos que acompanharam Carminho. Luís Guerreiro (guitarra portuguesa), André Ramos (viola de fado), Daniel Pinto (guitarra baixo), são exemplos de virtuosismo. O seu apreço por Carminho sente-se na forma como comunicam com ela, nesse fado que é de todos e que forma um conjunto natural, apesar das inúmeras horas de trabalho que estarão por trás de tão aprazível performance. Parabéns ao Luís Guerreiro pela qualidade de solos com que nos brindou no Fado Pechincha. Também eu fiquei quase sem respiração com tamanha quantidade de escalas, ornamentações, trinados e tudo o mais que o meu conhecimento musical não permite classificar.
Além dos músicos acompanhantes e da própria Carminho, Helder Moutinho (director artístico) deu o mote para o desenrolar da interessante conversa sobre o curto percurso da jovem fadista. Helder não conseguiu disfarçar a admiração sentida ao ouvi-la cantar. Ouvir Carminho contar a sua história, desde as suas influências, passando pelo percurso pelas casas de fado, pela presença constante do fado durante toda a sua vida (desde o ventre da sua mãe, Tereza Siqueira), foi cativante tanto pelo discurso juvenil e informal como pelos laivos de fino sentido de humor. "A miúda é gira...", ouvi alguém dizer.
Já perto do final deste encontro, Carminho desafia Helder Moutinho para cantar Marcha de Alfama. Ao meu lado, duas francesas não pescavam nada do que se estava a passar. Foram as palmas para a despedida e eu a perguntar, num francês macarrónico, se as ditas senhoras não teriam compreendido mesmo nada da conversa, ao que elas disseram: "Zero!" É que queriam que eu reproduzisse a história de Carminho, mas se fossem inglesas teriam tido melhor sorte e tudo o resto apenas dependeria da minha boa vontade.
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Ya dije que eran todo un lujo estas "conversas no CCB" y el privilegio de tener a Carminho: el summum.
ResponderEliminarEse panegirico que de ella haces lo suscribo plenamente. Desde que la escuché en Campo Pequeno, en 2008, la coloqué en mi "top ten" particular.
O Fado não conhece idades.
ResponderEliminarConhece Fadistas. Os verdadeiros...e os outros, tenham 70 ou 7 anos.
"Não é fadista quem quer, mas sim quem nasceu fadista", cantava o grande Manuel de Almeida, que antes de o ser, era sapateiro.
Carminho tem boa voz, alguma "raça", mas Ricardo Ribeiro...é "outra loiça".
Na minha opinião.
Compreendo o que quer dizer e tendo a concordar, ainda que com algumas reservas. É que para mim o "outra loiça" tem uma distância bem maior que aquilo que separa o Ricardo da Carminho. Não subscrevo essa dos 7 ou 70. Prefiro, definitivamente, 70. Por muitas razões nas quais o tempo invariavelmente intervém.
ResponderEliminarObrigada pela visita, José, mais uma vez.
A interpretção de "A Bia da Mouraria" pela Carminho é fabulosa! :)
ResponderEliminarTem razão! Infelizmente não o cantou desta vez.
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